Dr. Jayme Maltz[1]

 

 

  Nasceu na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul em 22 de março de 1924, quando esta ainda abrigava unia  significativa e atuante comunidade judaica.  É o filho primogênito de Jacob  Maltz, nascido em Rava Ruvska na  Galítzia, ex‑Império Austro‑Húngaro  e Polônia, hoje Ucrânia e Guilhcrmina  (Guitl) Fishmann Maltz, de Voroshilowka, próximo a Kiev, na Rússia.  Foi em Porto Alegre, onde se estabeleceram seus pais, que tornou‑se personagem atuante no meio profissional  médico e acadêmico, corno Professor  da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e  com clínica de cardiologia e medicina  interna, onde atua, ainda, há mais de 50  anos, com o seu consultório.  Por 40 anos, participou com entusiasmo da formação de várias gerações  de novos médicos, influenciando‑os  para o exercício profissional à partir de  princípios de ética, dignidade e respeito ao ser humano e da importância do  constante aperfeiçoamento e atualização, como base para a prática da Medicina dentro de um padrão de excelência  e rigor técnico.  Foi na dedicação à vida acadêmica,  que encontrou a motivação para, ao  longo dos seus quase 55 anos de vida  profissional, constantemente atualizar‑se, consciente, dos permanentes  avanços da Medicina, em todas as suas  áreas.  Desta forma, participou de inúmeros Cursos, Estágios, Congressos, Jornadas Técnicas e visitas a Centros Médicos, tanto no Brasil como no Exterior. procurando sempre, assimilar  conhecimentos para disseminar na sua  atividade acadêmica, como também,  aplicá-las no dia‑a‑dia da prática profissional.  Vida acadêmica e profissional  Cursou o antigo Colégio ("Idish")  Israelita de Porto Alegre e concluiu  seus estudos secundários no tradicional Colégio Júlio de Castilhos, em  1941, nesta mesma cidade.  Ingressou ria Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio  Grande do Sul em 1942 concluindo o  curso de 1948.

O registro no Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul é de n.E 356.

               No início de 1949 foi distinguido com urna bolsa de estudos para o Búrge Hospital, ria cidade de Basiléia. Suíça para realizar unia Especialização em Medicina Interna e Cardiologia.

Retornando a Porto Alegre em 1950, iniciou sua atividade profissional com consultório particular que mantém até a presente data.

               Na sua clientela incluem personagens políticos da vida Riograndense, incluindo ex‑governadores, senadores, deputados, pessoal do corpo‑consular e outros menos famosos, mas que sempre tiveram a mesma dedicação e carinho. Foi por muitos anos, até o seu encerramento, médico do Consulado Geral americano do Rio Grande do Sul.

               Desde 1950 é o médico cardiologista da Associação dos Servidores Civis Federais no Rio Grande do Sul e até 1977 foi médico do SASSE –  Serviço de assistência do Servidores das Caixas Econômicas no Rio Grande do Sul, quando foi extinguido.

               Em 1951 foi aprovado em concurso em Clínica Médica no extinto IAPC. e depois absorvido pelo INPS, onde exerceu em diversas ocasiões, cargos na chefia e direção, vindo a se aposentar em 1986.

               Iniciou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1954 como Professor Voluntário na 3ª. Cadeira de Clínica Médica, sendo admitido como auxiliar de Ensino em 1959 através de concurso.

               Em 1966 foi promovido a Professor‑adjunto do Departamento de Medicina Interna, onde veio a se aposentar em 1994, totalizando 40 anos de dedicação a vida acadêmica.

               Neste mesmo período, foi médico5cardiologista da Santa Casa de Porto alegre nas Enfermarias n.E 27, depois n.E 38, desde 1959 e do ambulatório n.E 13, de 1955 até 1977, onde assistia aos estudantes de medicina nos primeiros passos no contato com pacientes "de verdade".


Entre 1956 e 1957 foi o único médico brasileiro selecionado pela Harvard Medical School para participar de curso de Pós‑Graduação em Cardiologia no Massachusetts General Hospital, em Boston, USA, coordenado pelo Prof.  Dr. Paul White, com ênfase em Doenças Cardio‑Vasculares e Eletrocardiografia.

               Neste período, estagiou no Peter Bent Hospital, também da Harvard Medical School sob a orientação do Prof. Dr. Samuel Levine.

               Em 1963 obteve o título de Especialista em Medicina Interna e Cardiologia pela Associação Médica Brasileira.

               No seu currículo há uni vasto e extenso número de jornadas médicas, mesas redondas e cursos ministrados na Faculdade de Medicina, no seu centro acadêmico, Associação Médica (AMRGS), Sociedade de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Angiologia, Sociedade de Pediatria e em instituições e hospitais de cidades do interior do Rio Grande do Sul.

               Foi presidente da Sociedade de Cardiologia do RGS no biênio 1994/ 1995.

               Participou desde 1961 e por quase 30 anos de todos os Congressos Brasileiros de Cardiologia, tendo ajudado na organização do programa científi5co nos realizados no Rio Grande do Sul e apresentado trabalhos e participado de mesas redondas em alguns deles.

               Dentre vários trabalhos, os de maior repercussão foi sobre "Aspectos Psicológicos do Tratamento do Cardíaco Obeso" e sobre a "Prenilamina".

Somam‑se a estes, Jornadas Médicas e outros Congressos em diversas cidades brasileiras e no exterior, tendo apresentado trabalho de ensaio duplo cego no Congresso Europeu de Cardiologia em Atenas‑Grécia em 1968, que surpreendeu a todos, em se tratando de uni médico vindo do Brasil.

               Participou de publicações locais e nacionais com artigos médicos e teve um Estudo sobre Digital e m Pediatria publicado.

               Nas diversas viagens ao exterior, esteve em visita a convite, nas instalações de laboratórios médicos na Itália, da Carlo Erba e na Alemanha da Hoesht, voltados a pesquisa e desenvolvimento novos medicamentos para pacientes cardíacos.

Na Itália, em 1968, participou de Curso de Fisio‑patologia Cardio Respiratório com o Prof. Dr. M. Mopurgo, no Ospedale Maggiore S. Carlo Barromeo de Milano.

               Em Londres visitou por diversas ocasiões, Serviços Médicos de Cardiologia, destacando o St. Batholomew s Hospital, onde seu filho Milton atua.

               Nos quase. 55 anos do exercício do "sacerdócio' da medicina e nas vésperas de completar 80 anos, atendente diariamente em seu consultório, onde estiveram sob seus cuidados, quase 50.000 pacientes, alguns destes, clientes há décadas e que atribuem a sua sobrevida ao "grande amigo Dr. Maltz”.

               Isto vem sendo realizado com a mesma paixão, entusiasmo e profissionalismo que lhe norteou por todos estes anos, e somando‑se ao conhecimento só os anos dão, encontra sempre tempo para estar atualizado no que ocorre na Medicina e em especial, na Cardiologia.

               Com o mesmo carinho e dedicação que manteve durante a vida acadêmica, vibra em receber telefonemas e visitas de ex‑alunos e outros médicos, que buscam conselhos e orientações nos procedimentos em casos complicados onde a experiência dos anos é necessária e decisiva.

               Na sua trajetória profissional manteve‑se sempre fiel aos seus princípios judaicos, no respeito as tradições e datas festivas sem concessões e nunca omitindo, tanto no meio acadêmico e profissional. a sua condição de judeu tradicional e o seu Grande amor e admiração ao Estado de Israel.

 


               Vida familiar e comunitária.

              

               Casou‑se com Matilde Beer Maltz, em 1951, e tem dois filhos e duas filhas, casados, que residem respectivamente em Londres, São Paulo, Haifa e Peth-Tikva em Israel e quatorze netos.

               Dos filhos e genros, 2 são médicos de destaque nas suas áreas de atuação: Dr. Milton Beer Maitz, também Cardiologista que reside em Londres, Inglaterra e o Dr. Milton Saute, Chefe da Unidade de Cirurgia de Tórax do Hospital Beilinson (Rabin Medical Center) em Petah‑Tikva, Israel.

               Seguindo o exemplo dos seus pais na dedicação as tradições judaicas e a vida comunitária do Rio Grande do Sul., participa ativamente da diretoria de várias instituições, entre elas a União Israelita Porto Alegrense, o qual seu avô e pai foram fundadores, da Bnei Brit ‑ Loja Iehuda Halevi, o qual ajudou a fundar e a Sociedade Mantenedora do Colégio Israelita de Porto Alegre, os quais exerceu também a Presidência das duas últimas, por diversas ocasiões.

               Desde o início das atividades da Bnei Brit em Porto Alegre em 1955 até a presente data participou de inúmeros eventos e encontros nacionais, sulamericanos e internacionais nos Estados Unidos e Israel, colaborando sempre de forma efetiva na discussão e aprovação de resoluções que acrescentassem conteúdo judaico e promovessem uma ligação mais consistente da entidade com o Estado de Israel.

               Cultiva o Judaísmo tradicional, mantendo a Cashrut em casa e fora dela, o que oportunizou em receber em sua residência vários médicos e não médicos israelenses, americanos e ingleses, que por ocasiões vinham a Porto Alegre, para participar de eventos e que não tinham onde realizar as refeições.

               Tradicionalmente, nos Congressos Médicos que se realizavam em Porto Alegre, organizava um jantar de Shabath para os médicos participantes para "acrescentar um sabor judaico a hospitalidade gaúcha".

               Valendo‑se do seu relacionamento com o meio político, consular e acadêmico, promoveu por diversas vezes encontros com líderes comunitários locais, na recepção de embaixadores do Estado de Israel no Brasil em visitas oficiais e outros representantes deste país, inclusive na sua residência, entre estes, o Embaixador Iosef Tekoach, que mais tarde veio a ser o representante perante a ONU e o Embaixador Schneerson que foi homenageado pelo então Governador do Estado, Euclides Triches que era seu cliente e amigo de longa data.

               Sua casa sempre esteve aberta para a realização de eventos de cunho judaico para a comunidade, seja pelo seu relacionamento pessoal ou de seus filhos, na organização de palestras e encontros voltados ao meio social e universitário, independente das suas orientações. Estiveram lá o Rabino Shabsi Halpern que reuniu mais de 100 jovens, fato inédito em Porto Alegre, então, e o Rabino Henry Sobel, que veio proferir palestras num encontro.

               Manteve e ainda mantém unia amizade estreita com médicos como o Dr. Josef Feher (Z'L), que conheceu ainda no início da década de 50 em um curso na Santa Casa de São Paulo (Eletro‑Cardiografia proferido pelo Prof.  Sodi Pallares do México), com o Dr. Bernardo Akerman (Z'L) que lhe participava dos eventos do Capítulo Brasileiro da Associação Médica de Israel e outros estados, que teve o privilégio de conviver, seja nos encontros de medicina, seja pela atividade na Bnei Brit.

 

 

 


 

Publicado em Cartas Médicas, Novembro/Dezembro de 2003, publicação do Capítulo Brasileiro da Associação Médica de Israel.

 



[1] - Tem sido meu médico desde 1974. Aquele médico, amigo da família. Mudou-se para Israel, em 2005, fechando sua clínica em Porto Alegre. Entregou-me um conjunto de fichas, com sua letra miúda e decidida, contendo meu histórico clínico. Obrigado.